domingo, 24 de outubro de 2010

Diversidade e conceitos correlatos


Aulas dos dias 6 e 27/7/2010
Realizamos a leitura e discussão do texto Diversidade: Um conceito apropriado? De Wivian Weller.


D I V E R S I D A D E


O termo diversidade é utilizado para definir um conjunto de políticas e práticas educacionais que passaram a ser adotadas, sobretudo a partir da criação dessa secretaria no âmbito do MEC em 2004. Este é um termo um tanto escorregadio, que pode levar à celebração das diferenças sem um “posicionamento crítico e político e um olhar mais ampliado que consiga abarcar os seus múltiplos recortes”.
Nesse sentido, uma reflexão mais profunda em torno de alguns conceitos que se fazem necessários para que se possa de fato promover avanços e transformações no âmbito da escola no que se refere à tolerância às diversidades.
MULTICULTURALISMO

Termo surgiu a partir dos anos noventa com as contribuições de estudiosos como Stuart Hall. Multicultural é um vocábulo qualificativo utilizado para descrever as características sociais e os problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade nas quais diferentes comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo tempo em que  retém algo de sua identidade ‘original’.
Multiculturalismo é um substantivo que se refere às estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidades e de multiplicidade gerado pelas sociedades multiculturais. O termo descreve também uma série de processos e estratégias sempre inacabados e assim como existem distintas sociedades multiculturais, também podemos constatar distintos multiculturalismos e distintas correntes teóricas discutindo os distintos multiculturalismos: ético, de crenças, culturas, status social, etc.
Dois princípios básicos do multiculturalismo
·         Melting pot cultural: expressão estado unidense que compreende os EEUU  como uma democracia com diferentes línguas, grupos étnicos e uma diversidade de estilos de vida, tradições e valores. Rejeitam o ideal do país caldeirão no qual as diversidades são assimiladas em uma cultura comum.
·         Oposicionistas: questionam e muitas vezes rejeitam tais idéias e instituições que descartaram ou exerceram repressão sobre o pluralismo, uma das características centrais da condição multicultural.

O multiculturalismo vem se afirmando como um campo de estudos interdisciplinar e transversal, que tem tematizado e teorizado sobre a complexidade dos processos de elaboração de significados nas relações intergrupais e intersubjetivas, constitutivos de campos identitários em termos de etnia, gênero, classe, gerações, orientação sexual, religião, etc. A educação multicultural é a dissemiNação de significados, tempos, povos, fronteiras, tradições – que a alteridade radical da cultura nacional criará novas formas de viver e escrever.
DIFERENÇA

Homi K. Bhabha defende a utilização do conceito ‘diferença cultural’, pensando o limite da cultura como um problema da enunciação da diferença cultural, que deve ser vista como uma forma de intervenção e negociação.
RECONHECIMENTO

Teóricos como Nancy Fraser, Charles Taylor, Axel Honneth entre outros apontam para a “política do reconhecimento”. Essa política surge de vários setores ‘minoritários’ da sociedade com suporte no multiculturalismo. Nossas identidades originam-se do reconhecimento delas. Reconhecimento não adequado incide numa identidade deteriorada, ou na opressão e negação.
Um mecanismo eficiente é o de fusão dos horizontes que incide no estudo das diferentes culturas, valores e crenças promovendo a aquisição de diferentes linguagens.
Resgatando Hegel, Axel Honneth menciona trás formas de se desenvolver uma atitude positiva:  através do amor, direito e estima.    

POLÍTICA DE RECONHECIMENTO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

Para Taylor a educação é o lócus privilegiado para o debate sobre a implementação das políticas de reconhecimento. As instituições de ensino de qualquer nível devem adaptar seus currículos ante essa realidade de diversidades. Muitos de seus críticos acreditam que Taylor reduz sua teoria simplesmente ao reconhecimento ou não das diversidades.
Para Willinsky enfrentamos um processo de mudança do significado e significância das categorias, onde os que ocuparam e ocupam os postos de poder determinam essas categorias. Esse processo de nomeação desvela toda sorte de idéias pré-concebidas e deterministas que acomodamos em nosso senso comum sem, muitas vezes, questionarmos sua carga de preconceitos. Willisky defende uma mudança que inicie pelos conceitos.
REDISTRIBUIÇÃO

Segundo Nancy Fraser “demandas por reconhecimento das diferenças alimentam a luta de grupos  mobilizados sob as bandeiras da nacionalidade, etnicidade, raça, gênero e sexualidade. Identidade grupais substituem as classes nesse pós-socialismo de agora.
A autora propõe um conceito de justiça no qual o reconhecimento e redistribuição estejam integrados, uma vez que injustiças culturais ou simbólicas e socioeconômicas são práticas indistintas e cotidianas. Fraser prevê medidas de redistribuição de renda que possam minimizar esses impactos, bem como uma nova divisão do trabalho associadas a uma mudança cultural ou simbólica. Nestas idéias estão imbuídas a desinstitucionalização dos padrões androcêntricos que impedem a paridade dos gêneros e a elaboração de suportes a esse novo paradigma.  

Não podemos disseminar pela nossa prática educacional as desigualdades sociais, e de gênero. O trabalho filosófico, político e educacional deve estar direcionado para uma prática libertadora  que possa restaurar nossa identidade, desvinculada das máscaras da alienação. Educar multiculturalmente exige que nos desfaçamos do sistema atual de categorias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário