sábado, 9 de outubro de 2010

Entraves do trabalho docente

Aula do dia 8/6/2010 cujo texto motivador para a presente attividade foi "Caminhos da Profissão e da Profissionalidae docentes" de Menga Liolka e Luiz Alberto Borng 




O ensino de língua espanhola na Educação Básica do DF – Entraves do projeto e do trabalho docente


Discutir a realidade docente no sistema educacional brasileiro é um tópico de primeira ordem, haja vista os grandes desafios encontrados por todos os agentes da comunidade escolar, muitos deles agravados pela profunda desidentificação e desprestígio da figura do professor na sociedade atual.
O texto de autoria de Menga Lüdke e Luiz Alberto Boing “Caminhos da profissão e da profissionalidade docente” – norteador das breves conjeturas que se seguirão acerca da minha práxis pedagógica – inegavelmente trouxe à tona questões de suma relevância para se pensar a docência no Brasil e em particular a que vigora no Distrito Federal.
A título de contextualização, ressalto que sou professora de língua estrangeira moderna/espanhol pela SEDF desde fevereiro de 2010. O concurso que fiz (em setembro de 2006) me conduziria aos CILs – Centros Interescolares de Línguas presentes em quase todas as Regiões Administrativas do DF. Mas em decorrência da vigência da Lei nº. 11.161/2005, que impõe a obrigatoriedade da oferta do espanhol nos currículos do ensino médio das escolas brasileiras, foram realizados tais deslocamentos meu e de outros tantos professores para atender às demandas do ensino regular. Desvelava-se assim o primeiro e grande embate, já que não houve sensibilidade suficiente por parte destes idealizadores em promover condições mínimas de implementação da nova disciplina que ocorre em uma única aula semanal de 45 minutos. O professor de espanhol do ensino regular é obrigado a somar um número exorbitante de turmas para atingir um mínimo de horas de regência exigido pela SEDF. No meu caso específico, contabilizo vinte e cinco turmas, do ensino fundamental e médio, o que totaliza aproximadamente mil alunos! Há colegas em situação mais delicada: além de aulas de espanhol assumiram outras disciplinas a fim de cumprir essas exigências de regência. Tal realidade é bastante estressante. Conhecer os alunos é quase impossível, saber de suas necessidades, dificuldades... abordar os conteúdos determinados nos PCNs, realizar atividades interativas e criativas... tudo fica muito cerceado pelo tempo que é escasso e pela  dificuldade estrutural de uso das diferentes mídias: não há acústica, equipamentos, por vezes, sequer eletricidade.
Nesse contexto caótico, as contribuições do texto no que tange à precarização do trabalho docente são evidentes, gritantes, até. De fato, nós professores, pela própria essência da pluralidade de formação e interpretação do mundo de seres críticos in natura que somos, nos deparamos com a dificuldade em se tracejar um código de ética e conduta, em que pese uma formação universitária cada vez mais democratizada, mas que apresenta lacunas que nos são caras no cotidiano escolar.
            Essa precarização do trabalho docente, decorrente de inúmeras variáveis, assinala a perda bastante expressiva da aura providencial, de cunho religioso e missional que adornava a figura do professor (herança da matriz portuguesa). A identidade esfacelada e sem os referenciais sólidos de outrora faz do indivíduo contemporâneo um ser desenraizado. A sociedade como um todo perdeu esse viés sublime. E não estou sendo nostálgica. Somente constato o óbvio: a cada dia o indivíduo se desresponsabiliza mais e mais e ao fazê-lo, recai sobre a escola e sobre os professores toda a carga de valores a serem “transmitidos”. Nesse sentido, refuto um pouco as idéias dos autores que me parecem extremamente saudosistas ao considerar “missão” o trabalho docente (educação em caráter catequizante) por julgar a escola a instituição privilegiada de transmissão de cultura.  Argumento que a escola, nos pilares burocráticos, paternalistas e demagógicos que percebemos JAMAIS pode ser uma fonte de cultura profícua e de produção de conhecimento em sentido lato. É, na verdade, um aparelho ideológico do Estado, como muito bem enfatizou Altusser, e sua função tem sido a mera reprodução das desigualdades que vivenciamos dentro e fora dela. Muitos podem contraargumentar que o professor pode exercer alguma autonomia no seu trabalho, que pode burlar esses entraves estatais de funcionarização e profissionalização do professor. Eu, em minha prática docente, ainda que bastante recente, quase embrionária, almejo isso: não deixar-me engessar pelo sistema, recusar-me à aderir ao profissionalismo instituído e sim alcançar a profissionalidade à qual se refere Bourdoncle; a competência ante a qualificação de forma a atrelar o trabalho docente com a construção social. O próprio texto aponta alternativas interessantes para esse enfrentamento, a saber o retorno da formação docente aos moldes da antiga escola normal, a competência edificada sob a base da profissionalidade com vistas a gerar uma competência coletiva de construção de modos operacionais de ação dos diversos atores sociais e onde o professor de fato seja esse operador coletivo que possa conduzir, num trabalho em equipe, a elaboração e execução de modelos de ação. É em situações como as oportunizadas pelo presente curso que desenvolveremos pesquisas próprias a fim de abranger conhecimentos específicos da identidade disciplinar para que nós professores encontremos os rumos de nossa profissionalização – um processo contínuo, complexo mas engrandecedor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário