sábado, 9 de outubro de 2010

Resenha do filme Preciosa - uma historia de esperança


Filme exibido na aula do dia 3/8/2010 onde fora discutido o texto "Diversidade: um conceito apropriado?" da profa. Wivian Weller
 
Preciosa

Preciosa – Uma historia de esperança é a versão cinematográfica do romance Push by Sapphire realizada pelo diretor Lee Daniels cuja estréia deu-se em 2009 e foi indicado ao Oscar de 2010 em seis categorias. Relata a vida de Clarisse Precious Jones, uma adolescente de 17 anos, negra, obesa, habitante do Harlen, que sofre violência doméstica e sexual e que, apesar de seu potencial intelectual, ainda não sabe ler tampouco escrever.
  A postura da garota em sala de aula é a do mais profundo silêncio. É hostilizada por não atender aos padrões estéticos do nosso tempo. As recordações do cotidiano atroz se misturam com seus devaneios de fama e glamour. Deseja ser bela, magra, desejada, quer ter um namorado como qualquer pessoa de sua idade... Uma cena bastante emblemática é quando se olha no espelho e projeta aquilo que gostaria de ser: uma mulher branca, esbelta, de longos, lisos e loiros cabelos. Nutre um amor platônico pelo professor de matemática e em seus sonhos se vê casada com ele. Grávida novamente devido aos estupros provocados pelo pai, Precious convive ainda com o desequilíbrio da mãe que a inferioriza e martiriza. Em verdade a baixa estima e o sobrepeso da jovem são em grande parte provocados pela mãe que inveja a ‘predileção’ do pai em relação a Clarisse e assim a obriga a comer desmedidamente.
A pesada relação familiar revela problemas sociais graves. A mãe burla a assistência social a fim de garantir seu padrão de vida ocioso. Precious é obrigada a manter o silêncio em prol dessa farsa. A avó da protagonista cuida da primeira filha de Precious – uma garota com síndrome de Down. Quanto ao pai, só posteriormente sabe-se que foi vitimado pelo vírus da AIDS. Preciosa está igualmente contaminada e o momento em que tal notícia é revelada é quando ela está finalmente adquirindo maior autoestima. O auxilio da professora do programa educacional Each one, teach one é determinante neste processo de autoafirmação. A filosofia do projeto é o amparo a alunos com déficit de aprendizagem baseado na leitura e na escrita dos fatos relativos a suas vidas e expectativas, o que a escritora Conceição Evaristo intitulou como sendo escrevivência – a escrita da vida por seus protagonistas. Nesse sentido a leitura e a escrita são os mecanismos de subversão da desordem interna e externa, o que faz com que os alunos questionem o status quo e não mais o aceitem pacificamente.
O enredo é um caldeirão de diversidades, exemplificado, no campo étnico, pela protagonista negra e também pelas alunas e assistente social (multiétnicas). Quanto à diversidade sexual, a professora Blue vive um relacionamento homoerótico. E no campo das necessidades especiais, a filha de Precious é portadora da Síndrome de Down.
O filme toca em pontos complexos e cruciais da sociedade contemporânea, a saber, a diversidade, a violência doméstica e sexual, os estigmas e estereótipos sociais, e o papel da escola na vida do cidadão. Muitas vezes o professor é o único norteador do jovem cuja família está em franco processo de desagregação – o que não deixa de descaracterizar sua profissão – muitas vezes confundida com ‘missão’ – bem como contribuir para o entendimento equivocado de que ele tem de dar conta das responsabilidades que são ou seriam prioritariamente da família. Mas à parte tais discussões, o filme é pertinente no sentido de que a protagonista, mesmo num ambiente de circunstâncias e conseqüências adversas, toma a rédea de seu destino e almeja ser uma excelente mãe para seus filhos – frutos do horror e temor. Quer avançar intelectual e profissionalmente. Quer de fato nortear seus passos.  

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